sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Grupo Universidade Crítica 2013


Lançamento do
GRUPO UNIVERSIDADE CRÍTICA 2013


O ano de 2012 vem sendo mais um período de muito trabalho na Representação Discente. Dirigida pelo Grupo Universidade Crítica, a RD continuou a levar o debate de construção de um novo Projeto Político-Pedagógico para os estudantes, discutindo também com docentes e funcionários da São Francisco.

No primeiro semestre, foi realizado um Ciclo de Debates que se propôs, durante oito semanas, debater pontos fundamentais sobre a construção dessa nova Matriz Curricular do curso de Direito da USP, amparada pelo PPP. Todos os encaminhamentos foram levado à Subcomissão da CG de Reforma da Grade e PPP e aos Conselhos Departamentais, para que a mudança da Matriz Curricular continuasse avançando nos órgãos da Faculdade.

Também no primeiro semestre, três importantes vitórias foram conquistadas no âmbito da Congregação. O colegiado decidiu pela manutenção do título de persona non grata para nosso Reitor, representando nosso repúdio às atitudes antidemocráticas que João Grandino Rodas teve em relação à Faculdade – tanto em seu período na diretoria, quanto agora.

Outra conquista foi a aprovação, por aclamação, de uma manifestação favorável à aplicação de cotas raciais e sociais na Fuvest. Com o apoio de funcionários, estudantes, professores e movimentos sociais, a pauta foi levada à reunião da Congregação, tornando nossa unidade a primeira da USP a se pronunciar sobre o tema. Nesta semana, o Conselho Universitário discutiu a questão e decidiu por criar uma comissão que será responsável por levar o debate às unidades, a fim de discutir com a comunidade acadêmica e dar suporte para uma decisão final do Conselho.

Por fim, conseguimos a criação de uma subcomissão paritária que discutirá um projeto de reforma do Regimento Interno da Faculdade. Essa pauta terá grande importância no próximo período e está intimamente ligada com a construção do novo Projeto Político-Pedagógico.

Além disso, o Grupo Universidade Crítica vem trabalhando - em conjunto com o grupo Direito e Ditadura – para a instituição de uma Comissão da Verdade na São Francisco. Conhecer as reais ligações das pessoas que passaram pelas Arcadas com o Regime Militar, bem como qual foi o suporte dado pela Faculdade na criação do arcabouço jurídico-institucional da Ditadura e como foram as perseguições às franciscanas e franciscanos opositores, é fundamental para a democratização de nossa Academia.

O Grupo Universidade Crítica acredita que todas estas questões citadas acima estão relacionadas em um mesmo projeto de Universidade. Um projeto que valorize a pesquisa e a extensão da mesma forma como o ensino é valorizado; que seja construído com a participação de toda a comunidade acadêmica; que seja socialmente referenciado, a fim de incidir para além dos nossos muros de pedra e que se deixe ser também tocado por aqueles que hoje não podem adentrá-los; um projeto que forme profissionais críticos às estruturas tradicionais e sensíveis à realidade que os cerca cotidianamente.

Estamos dispostos a lutar, no ano de 2013, para que mais vitórias sejam conquistadas em prol da sociedade e da universidade que acreditamos. Para isso, continuaremos construindo ao lado dos e das estudantes, trabalhadores e trabalhadoras da nossa Faculdade, a fim de concretizar, da melhor forma possível, as demandas estudantis e sociais.

“O espírito humano critica não porque pensa, mas porque sente.”



LEIA nossa Carta Programa 2013: AQUI

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO COMUM


A elaboração de um novo Projeto Político-Pedagógico na FDUSP

Os anos de 2011 e 2012 foram marcados pelas discussões sobre um novo Projeto Político-Pedagógico (PPP) para a Faculdade de Direito da USP. O debate alavancado principalmente pela decadência da já antiquada grade de 2007, iniciou-se em 2010 com o Congresso Interno realizado pelo Centro Acadêmico XI de Agosto e Representação Discente à época, e ganhou força institucional com a criação de uma subcomissão para discussão da grade e do PPP.

Tratar de Projeto Político-Pedagógico não é uma tarefa fácil. Discutir novos modelos de estruturação de um ensino jurídico marcado pelo tradicionalismo de 185 anos traz entraves de uma realidade já muito consolidada e uma responsabilidade sem tamanho. Daí a necessidade de se construir aberta e democraticamente uma nova estrutura que combine em sua forma o ensino, a pesquisa e a extensão, para que tais elementos consolidem uma nova e completa forma de se aprender o direito.

Não é com grande surpresa que se vê a mesma discussão sobre reestruturação do Projeto Político-Pedagógico ocorrendo no curso de Direito da Universidade de Brasília. A educação jurídica no país hoje vem sofrendo transformações e precisa ser repensada para atingir sua finalidade. Afinal, formam-se juristas somente para operar o gigantesco maquinal da estrutura jurídica ou para repensar as bases da justiça no Brasil? Estar inserido numa universidade pública traz, nesse sentido, a reflexão da função da universidade – bem como de seus estudantes – num país que figura entre os primeiros colocados não só das maiores economias mundiais, mas também dos maiores índices de desigualdade.

Assim, é preciso repensar o ensino jurídico, conjuntamente, a fim de que ele combine elementos para um aprendizado atual, crítico e consciente, utilizando-se de instrumentos para efetivar o diálogo entre sociedade e universidade de forma verdadeiramente democrática e sensível ao contexto em que está inserida.

O que já foi feito?

Em 2010 deu-se inicio da discussão de um novo Projeto Político-Pedagógico que previsse em sua estrutura a junção articulada do ensino, pesquisa e extensão. Os estudantes começaram a discutir um projeto que estruturasse efetivamente a Faculdade de Direito e desse um norte para a formação de novos e novas juristas conscientes de sua função na sociedade.

Assim, levada a demanda aos níveis institucionais, foi criada em maio de 2011 a Subcomissão para Reforma da Grade e do Projeto Político-Pedagógico, esta ligada a Comissão de Graduação. Sua principal tarefa era pensar na construção de uma nova Matriz Curricular, utilizando-se como base a Resolução nº 9 do CNE, a Constituição Federal e princípios democráticos e republicanos.

Porém, devido à decadência da grade implementada em 2008, a subcomissão se dedicou alguns meses na criação e implementação de um pacote de medidas emergenciais que permitisse aos estudantes ao menos se formar no período de cinco anos.

Após a realização e efetivação de tal trabalho, começou-se a pensar sobre os parâmetros em que a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo se insere no mundo, ou seja, seu posicionamento frente às consideradas melhores Faculdades de Direito a nivel internacional. A função de tal levantamento e pesquisa nunca foi a de fazer um “recorte e cola” dos melhores atributos internacionais, mas tentar desmitificar a crença de que a Faculdade de Direito da USP já se encontra entre as melhores do mundo e, por isso, não precisa mudar.

Aqui, é importante dizer que um PPP deve refletir em sua essência a sociedade e o contexto em que nossa Faculdade está inserida: precisamos fazer o exercício de olharmos o que está fora do ambiente muitas vezes alienável da Faculdade. Nesse ponto, a FDUSP tem a marcante característica de estar localizada no centro da cidade de São Paulo, convivendo com uma imensa desigualdade e miséria diária. Na cidade de São Paulo, o cotidiano frenético nos impele a ficar imersos nos problemas individuais e não olhar para o Outro e, por essa análise, a Faculdade de Direito não está livre dessa frieza ao que lhe é alheio.

Observar que a extensão, ponto de contato e diálogo entre a universidade e a sociedade, não faz parte do currículo e é pouco reconhecida, só mostra uma triste escolha de currículo. Tal escolha não está isenta de um posicionamento político. Por isso, o projeto que se pretende construir, mais que puramente pedagógico, é também político.

Finalizadas as pesquisas internacionais em 2011, iniciou-se em 2012 uma pesquisa diagnóstica sobre o currículo atual da FDUSP, a fim de problematizar sua estrutura e mostrar de forma clara a todos os professores, estudantes e funcionários seus problemas e vícios.

Realizou-se uma reunião aberta da subcomissão onde foi apresentado o diagnóstico final. Nessa apresentação constava as principais inadequações do currículo atual em relação a 1) universidades internacionais consideradas de excelência, 2) Diretrizes Curriculares Nacionais, mais especificamente a Resolução CNE nº 9, e 3) Constituição Federal de 1988, que versa explicitamente em seu art. 207 sobre a necessidade do tripé universitário.

A Representação Discente, no intuito de democratizar ao máximo a discussão sobre o PPP com os estudantes estruturou um Ciclo de Debates, que contava com oito encontros onde foram discutidos temas pertinentes ao Projeto Político-Pedagógico. Ensino, pesquisa, extensão, Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), ciclo básico, permanência estudantil, estruturação docente, instalações físicas e o tripé funcionários-estudantes-docentes foram temas dos encontros realizados no formato de rodas de discussão.

Foram discutidos, além disso, outros assuntos como estágio, ingresso na universidade pública, política de cotas, bolsas de permanência, extensão popular, crédito aula e crédito trabalho, iniciação científica, tese de Láurea, interdisciplinaridade, métodos avaliativos, tempo em sala de aula, também foram devidamente debatidos.

As atas finais de cada encontro servirão de material para enriquecer a discussão final da construção do Projeto Político-Pedagógico.

O que queremos fazer?

As discussões sobre aprendizagem jurídica atingiram, após esses anos, um bom nível para concretização de ideias. Avanços como a inserção de um real tripé universitário, que permita o aprendizado também fora da sala de aula, a remodelagem dos eixos de formação fundamental, profissional e prático, com a inserção de um ciclo básico e de um núcleo de práticas jurídicas não podem ser perdidos e precisam ser efetivados.

Porém, para que isso se concretize, muitas discussões precisam ser feitas entre docentes, estudantes e funcionários. É fundamental uma preocupação pedagógica na hora de se estruturar esse projeto final, atentando-se aos elementos essenciais de formação.

Para que o estudante e os docentes possam se dedicar à pesquisa e aos grupos de extensão, faz-se necessário em primeiro lugar uma diminuição significativa da carga obrigatória dentro da sala de aula. Para que os docentes possam refletir quais disciplinas devem ser obrigatórias a todos os alunos e alunas, precisa-se pensar nos perfis de egresso, ou seja, que tipo de profissional a Faculdade pretende formar.

Por ser a única Faculdade de Direito pública na cidade de São Paulo, devemos primar pela democratização do ensino, ou seja, que uma gama diversa de estudantes possam ser formados, sem que isso prejudique um perfil em detrimento de outro. Assim, estratégias como pensar alguns perfis principais como o estudante que deseja prestar concurso público, o que pretende exercer a advocacia contenciosa ou consultiva, o estudante que deseja seguir carreira acadêmica e o estudante que deseja trabalhar em projetos sociais e traçar uma base comum de disciplinas para todos esses perfis é um bom exercício para se pensar um conteúdo essencial comum.

A proporção entre o ensino, a pesquisa e a extensão também influenciam diretamente o tipo de profissional que se deseja formar na Faculdade. Uma carga excessiva de ensino acaba por privilegiar uma formação técnica, enquanto a pesquisa privilegia a formação de docentes e pesquisadores. Além disso, temos a extensão que cuidará de formar agentes transformadores da sociedade. O ideal é que esse tripé funcione de forma articulada e que os alunos que tiverem inclinação a determinado perfil possam se dedicar a ele de forma autônoma, mas que todos tenham uma base mínima desses múltiplos perfis.

Assim, reformular a Matriz Curricular e construir um Projeto Político-Pedagógico exige mais do que a qualificação de uma disciplina em optativa ou obrigatória. Exige uma reconsideração do ensino hoje e reflexão do que se pretende formar e mudar, tudo isso permeado por uma preocupação pedagógica para lidar com diversos elementos necessários para a formação completa de um estudante crítico e também autônomo.

O que propomos?

Propomos assim que ao fim de realizado o diagnóstico da grade atual e debatido futuras mudanças, que sejam levadas em considerações algumas sugestões:

1) Que se considere as questões sobre ensino jurídico trabalhadas pelos autores Roberto Mangabeira Unger no texto “Uma nova Faculdade de Direito no Brasil” e Boaventura de Sousa Santos no texto “A Universidade do Século XXI – Para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade”.

2) Que se analise e pense à luz das seguintes normativas: Resolução nº 9 de 29 de setembro de 2004 da CNE/CES do MEC, o Parecer nº 211 de 2004 da CNE/CES do MEC e a Lei 10.172/01 (Plano Nacional de Educação).

3) Que sejam levados em conta múltiplos perfis de egresso para que assim seja traçado um conteúdo essencial obrigatório a todos esses perfis, tomando como base uma formação crítica e emancipadora.

4) Que sejam repensados os conteúdos das disciplinas para se estas se adequem a nova Matriz Curricular.

5) Que os docentes vejam a possibilidade de se dedicarem a orientação de grupos de pesquisa e extensão, visando o fortalecimento do tripé universitário.

6) Que participem do debate do PPP encaminhando sugestões a subcomissão sempre que acharem necessário.

É fundamental que todos participem desse processo de estruturação do Projeto Político-Pedagógico. Quanto mais discussões e reflexões forem feitas nesse sentido, mais forte e democrático será o novo PPP.


Representação Discente da FDUSP
Grupo Universidade Crítica – Gestão 2012
www.rdfdusp.org
contatord@rdfdusp.org


O texto foi escrito, no primeiro semestre de 2012, no contexto de passagem nos departamentos para a apresentação do diagnóstico da grade curricular da São Francisco. Todos os docentes tiveram acesso ao documento.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tratar os desiguais como desiguais

André Jorgetto de Almeida
Representante Discente na Congregação

 
Aqueles que criticam o sistema de cotas raciais nas universidades como um ataque à igualdade, afetando o sistema de meritocracia, consideram o ensinamento aristotélico pela metade: tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais, na medida de sua desigualdade. 
A Universidade de São Paulo possui um programa que pretende facilitar o ingresso dos alunos de escola pública: o INCLUSP e o PASUSP. Como é possível acessar no próprio site da instituição (a versão está em PDF: http://www.prg.usp.br/site/images/stories/revista_inclusp.pdf), o primeiro é uma isenção do pagamento da inscrição no vestibular combinada com uma possível bonificação no exame, dada somente aos alunos que cursaram o ensino médio em escola pública; o segundo é um programa mais dirigido, que atende aqueles que estudaram nas escolas públicas paulistas, somado a um acréscimo de até 15% na nota do vestibular, também com isenção do pagamento da inscrição. 
Não se questiona o mérito desses programas de inclusão, mas se nota uma particularidade: não há uma reserva de vagas para os estudantes provenientes de escola públicas. Eles são simplesmente auxiliados pelos programas de inclusão através de uma bonificação no exame. Então, como garantir efetivamente a inclusão de segmentos populares na USP? 
É fato inconteste que a desigualdade social repercute na educação dos indivíduos. Mesmo com programas de transferência de renda que incentivem a permanência na escola (Bolsa Família), a discrepância entre o ensino na rede pública e o na rede privada continua alarmante. Isso acaba interferindo diretamente nos quadros que compõem a universidade pública. Além das questões econômicas, as étnico-raciais (estas ignoradas pela USP no processo seletivo) criam um cenário no qual a porcentagem de negros no Brasil com grau universitário em 2001 foi atingida nos EUA, em plena era de segregação, intolerância e violência racial aberta (basta acessar o relatório do desenvolvimento humano de 2005, página 70: http://www.pnud.org.br/rdh/) 
Segundo o mesmo relatório (p. 71) que “a pequena participação dos negros é fortemente concentrada nos cursos de menor prestígio. Entre 1980 e de 2000, os cursos que registraram maior crescimento são da área de ciências humanas e sociais, em que os negros já apresentavam maior participação. Em cursos que dão acesso a rendimentos mais elevados, como medicina, direito, odontologia, computação e arquitetura, a presença de negros aumentou muito pouco e, em alguns casos, até diminuiu. (...) pode-se especular com bastante segurança que a participação dos negros só não se reduziu ainda mais ao longo da década de 1990 porque a expansão do sistema universitário ocorreu mais no setor privado (crescimento de 88%) que no público (53%).”
Vale ressaltar, com Thiago Ingrassia Pereira, que “ninguém é ‘menos inteligente’ por ser negro ou por ser de classe popular, mas as questões raciais e de classe social acabam por distribuir os bens materiais e simbólicos de forma a criar constrangimentos que não oportunizam as mesmas chances para todos.” (Classes populares no ensino superior brasileiro: desafios políticos e pedagógicos. In: Universidade e suas fronteiras, pp. 77 – 78) 
Consoante à sabedoria aristotélica, o autor ressalta que “uma sociedade desigual não pode pretender educar de forma igual, ou seja, é preciso uma metodologia e um compromisso diante de uma sociedade de classes” (p. 78). 
As políticas de acesso ao ensino superior como o ProUni, UAB e o Reuni permitiram a entrada de segmentos historicamente excluídos do ensino superior, mudando sua feição. Como permanecerá a USP após a consolidação ou expansão desses programas? Sendo a melhor universidade do país, como ela poderia incluir classes populares sem perder a excelência? Para melhor enfrentar esse desafio, deve-se discutir a educação popular no ensino superior. Por exemplo, conhecemos um professor universitário que dá aulas de direito em uma faculdade privada frequentada por alunos com uma formação deficitária. Ele percebeu que tinham dificuldades na compreensão dos textos e na escrita. Sua solução foi acrescentar as matérias Português I e Português II, respectivamente, para o primeiro e segundo semestres do primeiro ano da graduação. Um ano depois, ele já percebeu melhorias qualitativas no aprendizado dos alunos. Ele introduziu uma disciplina “estranha” ao currículo de um curso de direito, mas que foi eficiente para sanar parte do déficit. Por que não aproveitar a estrutura da própria USP, que possuiu só no campus da capital mais de 20 unidades? 
Parafraseando Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina, há dois lados na divisão social e racial da educação: um segmento que se especializou em conhecer e outro que se especializou em ignorar.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

De fora pra dentro: Um novo currículo para o curso de Direito da USP.

Mariana Teresa Galvão
Representante Discente na Comissão de Graduação

A Faculdade de Direito da USP vem rediscutindo com intensidade sua Matriz Curricular e Projeto Político-Pedagógico (PPP). A demanda da aprovação de uma nova grade, estruturada por um Projeto Político-Pedagógico, se deu, principalmente, pela aprovação da mal planejada grade de 2007, que vem causando transtorno na vida dos estudantes desde sua implementação em 2008.

Para a reforma ocorrer, no entanto, faz-se necessário um estudo profundo e pedagógico sobre o que deve constar num currículo de Direito, bem como aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais, que já descrevem na forma de Resolução, alguns pontos fundamentais que um curso de Direito deve ter (Resolução CNE/CES N° 9, de 29 de setembro de 2004).

No intuito de dar um caráter prático e palpável das discussões, foi feito em 2011 um levantamento dos considerados melhores cursos de Direito do mundo. Harvard (EUA), Oxford (Inglaterra), Tor Vergata (Itália), Heidelberg (Alemanha), Los Andes (Colômbia) e Coimbra (Portugal), foram algumas das Faculdades estudadas para tal pesquisa.

O estudo foi feito no âmbito da Subcomissão de Reforma da Grade e do Projeto Político-Pedagógico, submetida à Comissão de Graduação, e se baseou na resposta a 10 questões que refletiam de forma abrangente, mas também prática, os pontos principais da estruturação de um curso de Direito. Tais perguntas tinham por função dar um norte à pesquisa. Eram elas:

1) A graduação em direito em sua instituição é em tempo integral ou em tempo parcial?
2) Qual é, em média, a porcentagem de disciplinas obrigatórias ao longo do curso de graduação em direito? A partir de que momento o aluno pode escolher disciplinas optativas?
3) Quantas horas por semana, em média, um aluno de graduação em direito fica em sala deaula?
4) Qual é a porcentagem média de disciplinas que possuem oficinas ou seminários em grupos menores de alunos? Que porcentagem aproximada de tempo elas ocupam em relação ao total de horas de aula do curso?
5) Quantos alunos, em média, há em uma sala de aula (ou turma) ao longo da graduação em direito?
6) Qual é, em média, a carga horária semanal de aulas de um professor (disciplinas de graduação apenas)?
7) Quantas disciplinas de graduação, em média, estão sob a responsabilidade de cada docente em cada semestre ou período letivo?
8) Qual a porcentagem de docentes em dedicação integral à docência e à pesquisa?
9) Qual a porcentagem aproximada da grade curricular não correspondente a matérias dogmáticas?
10) Atividades de pesquisa e extensão são obrigatórias no currículo do aluno? Quantos créditos relativos a atividades de pesquisa e extensão o aluno deve cumprir?

Após a obtenção das respostas por meio dos sites das Faculdades internacionais e também com a ajuda de alguns estudantes e docentes que estiveram no exterior e compartilharam suas experiências, fez-se um estudo comparativo entre os diferentes cursos de Direito, incluindo o da Universidade de São Paulo. Foram feitos gráficos e, ao fim, montou-se uma apresentação para ampla exposição entre os estudantes e docentes.






O resultado mostrou a discrepância existente entre o curso de Direito do Largo de São Francisco, mais tradicional do País, e os outros cursos de Direito renomados do exterior, principalmente no que tange a quantidade de horas que um aluno tem aulas em sala de aula, infraestrutura, interdisciplinaridade das disciplinas e obrigatoriedade de atividades como extensão e pesquisa.

Cabe frisar que o objetivo desse levantamento nunca foi o de fazer um “recorta e cola” das melhores características internacionais e aplicá-las ao curso de Direito da USP, mas mostrar a desproporção entre os cursos do exterior e o da São Francisco. Esse estudo combate o senso comum, disseminado entre estudantes e docentes, que confortavelmente crê na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco como uma instituição de referência e destaque, provando, ao contrário disso, a necessidade e urgência de uma ampla reestrutração curricular.

Ao se pensar um novo currículo para cursos da USP é preciso levar em conta seu caráter público. Os estudantes precisam ter consciência da sociedade que os rodeia e que financia seus estudos, criando um vínculo de responsabilidade para com a população de São Paulo e do resto do País. Daí a necessidade de se pensar um curso crítico, social, que vise à melhora do País e lute para o fim das mazelas como a miséria, fome, extrema desigualdade, falta de acesso à educação e sistema de saúde, entre outros.

Para os mais céticos, não se trata aqui de utopias socialistas, mas de uma conscientização do que ocorre no Brasil e a noção de agente público que um estudante da universidade pública tem. Um curso de Direito, ou qualquer outro,precisa se sensibilizar com a sociedade e questionar: o que o Brasil precisa? A resposta deverá ser o princípio norteador dos cursos, para tentar acabar com os muros, também invisíveis, de uma universidade que pertence a todos e que se fecha cada vez mais para o que está fora dela.


Texto escrito para o blog LivrEducAção: http://livreducacao.org/

terça-feira, 10 de abril de 2012

Extensão, um conceito reacionário?


André Jorgetto de Almeida
Representante Discente na Congregação


A extensão é um dos três componentes do moderno conceito de universidade, sendo os outros dois o ensino e a pesquisa. Ela se caracteriza por uma prestação gratuita à comunidade de serviços relacionados ao saber.

Na universidade pública, além de ser uma exigência para manter uma coerência conceitual, a extensão acaba por se tornar um dever moral e legal a ser cumprido pela instituição. Sendo a sociedade quem custeia sob a forma de impostos (principalmente o ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) o ensino superior público, é ela primeiramente quem deve perceber os benefícios. Vale ressaltar que a parcela social que mais arca com o ICMS são as pessoas de baixa renda, fato que torna a extensão algo digno de participação e estímulo por parte daqueles que compõem a universidade, seja na qualidade de funcionários (entre eles, os professores) ou de alunos.

Conforme Dirceu Benincá (organizador da obra Universidade e suas Fronteiras, publicada pela editora Outras Expressões), ela surgiu a partir da compreensão da necessidade de estender os benefícios da ciência e do conhecimento à sociedade. Como Benincá pontua, a extensão não deixou de ser influenciada pelo contexto histórico e político. Por exemplo, durante a Ditadura Militar, houve o predomínio de uma tendência assistencialista de extensão, combatida a partir de uma perspectiva de uma relação dialógica entre universidade e comunidade.

Por trás do conceito de extensão, está um diálogo entre a universidade e a sociedade. No Brasil, temos uma grande demanda por acesso ao conhecimento, sendo a extensão, muitas vezes, a única via existente para saná-la. No entanto, ela tem conseguido se livrar do caráter meramente assitencialista e atingiu o patamar dialógico?

Antes de dar prosseguimento à reflexão, devemos perguntar pela relação entre o saber da univerisidade e a extensão. Enquanto prestação de serviços relacionados ao conhecimento,
a extensão reproduz um conceito totalitário de ciência. Tal conceito toma como verdadeiros todos os enunciados que foram deduzidos através de um método. Marginalizados, os conhecimentos “comuns” são cortados de suas realidades sociopolíticas e consequentemente neutralizados em sua validade e potencialidade.

Inserir e trabalhar a dialogicidade na extensão significa a destruição do seu conceito tradicional, rompendo com a pretensão arbitrária da ciência. Assim, a extensão dialógica se torna a subversão do próprio conhecimento, indo contra do sentido da rua de mão única que é a universidade, proprietária do saber científico.

A universidade não pode mais se furtar de aprender com grupos, comunidades, movimentos e experiências sociais e populares. É necessário um reconhecimento do não-saber recíproco, para chegar a uma produção (com)partilhada do conhecimento. Supera-se, assim, a distinção entre ensino e aprendizagem, criando contexto de aprendizagem mútua. Essa extensão dialógica trabalhada nas faculdades de direito possibilita uma construção de um conhecimento jurídico mais democrático. Essa ideia traz consigo uma potencialidade revolucionária, científica e socialmente.