domingo, 1 de abril de 2012

Persona non grata: por aqui não existe manada

  Jade Pereira


29 de março de 2012, a Congregação da São Francisco decidiu que João Grandino Rodas continua a ser considerado persona non grata para esta casa. Título merecido pelos inúmeros ataques a nossa Faculdade.
Como não lembrar das tentativas de instalar catracas, câmeras, dos atos de improbidade administrativa, da grade curricular caótica imposta em 2007, e quem de nós franciscanos não está, ainda hoje, com um sentimento de derrota, engasgado na garganta, ao ver o já tão sofrido acervo de nossa biblioteca disputando espaço com pombos em um prédio decadente, sem elevadores e com infiltrações? Sentimento esse ainda intensificado pelo modo de transferência totalmente irresponsável, durante o período das férias, em caixas precárias empilhadas, expondo os livros ao calor e à chuva, em demonstração de total falta de compromisso com a Faculdade, nossa tradição e história.

Pois, não bastasse as inúmeras investidas autoritárias e privatistas de João Grandino como diretor da Faculdade de Direito, como reitor, Rodas foi além.
O que ele deveria fazer como reitor era, por exemplo, liberar verba para a reforma do prédio anexo da FD e construir uma biblioteca de verdade, como tem a maioria das outras faculdades da USP. Nos deparamos, no entanto, com uma severa recusa em liberar verba pública para consertar seu próprio estrago, pelo qual quem paga somos nós. Além disso, publicou boletins informativos, em nome da reitoria da USP, com críticas à diretoria da São Francisco. Tais boletins, contendo acusações à diretoria de “descontinuar projetos”, de “inatividade”, a essa altura dos acontecimentos, foram mais que patéticos e risíveis, mas imorais,  já que visavam manipular a opinião da comunidade acadêmica, culpando a atual diretoria pela falta de reforma do prédio da biblioteca, quando já era mais que um fato, sabido e comprovado, que as causas dessa situação vivida pelas Arcadas foram tão-somente os atos do reitor e sua desastrosa gestão como diretor da São Francisco.
As mentiras publicadas, fazendo uso da estrutura da reitoria para tanto, foi o que bastou, a gota d’água para uma mobilização ampla de todos aqueles legítimos representantes da Faculdade de Direito da USP, alunos, professores e funcionários. A revolta foi marcada por ato de repúdio no pátio, organizado pelos grupos Universidade Crítica e Fórum da Esquerda, e por decisão unânime na Congregação de impor o título de persona non grata a João Grandino Rodas em 29 de setembro de 2011.

Sabemos que o título persona non grata, por si só, não resolve nossos problemas. No entanto, é importantíssimo, pois tem um significado político: é uma afirmação de nossa postura contrária a tudo aquilo que o Rodas representa, afirmação daquilo que não estamos dispostos a abdicar, pois vemos como inegociável, desfecho final de nossa recusa em continuar passíveis diante da política nefasta do reitor nesta faculdade, fechado a qualquer diálogo. A passividade, como podemos ver na história, é terreno fértil para o autoritarismo e, portanto, é necessário lutar contra ela também. Do contrário, continuaremos vendo nossas salas batizadas com nomes de banqueiros, livros da biblioteca amontoados e alunos e professores subjugados.
Rodas, talvez por ainda ter a ilusão de que aqui exista uma manada, palavra que ele adora utilizar, pediu revogação do título. Dos 41 votos, 17 professores a favor, 17 professores, 4 alunos e 3 funcionários contra. Resultado: derrotado, por 24 a 17.


“Não se pode anular um sentimento”.

(Maria Sylvia Zanella Di Pietro  - prof. Titular de Direito

 Administrativo e relatora do recurso na Congregação).

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